A pandemia da COVID-19 chegou sem pedir licença. Do dia para a noite tivemos que mudar a forma como nos relacionamos, adaptar nosso cotidiano e repensar diversas coisas que entendíamos como certas e garantidas.

Praticamente todas as dimensões da nossa vida foram afetadas de um jeito ou de outro, mas uma delas em específico foi totalmente atravessada: a do TRABALHO.

Temos essa grande crise enquanto pano de fundo que se impôs a nós, e que está sendo vivida por todxs. Mas, isso não quer dizer que ela esteja sendo experienciada de forma igualitária por todxs nós. Especialmente no campo do trabalho nesse Brasil tão diverso.

Para quem teve a possibilidade de adaptar seu trabalho para o remoto e fazer home office, tudo ficou misturado e, com isso, mais difícil de dar o contorno entre os espaços e os tempos do que é vida pessoal e profissional. De repente, sua estação de trabalho tem que ser montada no meio da sala, que é o único lugar da casa que tem uma mesa, dividindo espaço com outras pessoas que também têm que ocupar este lugar.

Quando começa e quando termina o expediente? Os aplicativos de mensagem instantânea já estavam contribuindo para essa invasão do trabalho em momentos inadequados. Por exemplo, você está lá relaxando, sabadão, e vem uma mensagem dx chefe invadir seu final de semana. Uma mensagem que poderia tranquilamente ter esperado até segunda-feira. 

Com a pandemia, quarentena e trabalho remoto, tudo isso se intensificou – se este será o tal do novo normal, precisamos construir formas de nos proteger, pois essa adaptação vai para além de simplesmente levar o computador para casa!

E esta é apenas uma parcela [pequena] da população. A grande maioria dxs trabalhadorxs, que também tiveram suas ocupações totalmente atravessadas pela pandemia, são aqueles que precisam sair de casa para trabalhar. 

Além dxs profissionais da saúde da linha de frente, que enfrentam uma batalha por dia no combate à pandemia, temos também um outro grupo bastante diverso, que são os trabalhadores dos serviços essenciais: caixas de supermercado, entregadores, motoristas de aplicativos, equipe de serviços dos hospitais/clínicas, entre outros muitos trabalhadores que mantiveram a cidade funcionando nos momentos mais críticos da quarentena. 

Essa dimensão nos chama a pensar de um jeito mais coletivo do que individual. 

Quem protege esses profissionais que precisam sair na rua e que mantêm a economia funcionando? Será que são eles mesmos que devem se responsabilizar por toda a sua proteção social? O(a) contratante não assume nenhum risco e o(a) trabalhador assume todos? Parece que a conta não fecha!

Parte dessxs trabalhadorxs já estavam precarizadxs anteriormente, mas, com a pandemia, tudo isso ficou ainda mais evidente. 

Mas, e aí... não tem saída?

Bem, do ponto de vista individual, podemos sim buscar promover mais saúde mental no trabalho em nosso dia a dia. Algumas dicas:

~ Rotina: muito tem se falado na importância de se estabelecer uma rotina para que o trabalho em home office funcione. E é verdade, ajuda mesmo! Mas nem sempre é fácil conseguir fazer isso. Uma dica é tentar criar alguns “rituais” para marcar as transições do dia. Por exemplo: algo que te diga que começou o expediente (abrir o notebook e pegar um café); um lembrete de que chegou a hora de fazer uma pausa para o almoço (colocar um alarme, levantar de sua estação e fechar o notebook), e por aí vai...

~ Novos combinados: é o momento de praticar sua habilidade de negociação e propor acordos! Isso vale com quem você eventualmente divide o lar (família, parceirx, amigx...), mas também em seu trabalho - é importante estabelecer limites! Estamos todos aprendendo como lidar com tudo isso, então, por que não aproveitar esse momento de forma criativa para co-construir esse novo espaço que queremos habitar?

~ Postura: muito provavelmente você não tem aquela super cadeira ergonômica que te deixa com uma postura perfeita para trabalhar em casa, né? Se o futuro será remoto para parte das pessoas, também teremos que pensar nisso... trabalhar com dor = trabalhar com mais estresse. Busque manter a postura na cadeira, mantendo o computador na altura dos olhos. Levante e se alongue de tempos em tempos. Tente se exercitar, da forma que for possível, para movimentar um pouco seu corpo.  

E do ponto de vista coletivo, o que dá pra gente fazer?

Uma só andorinha não faz verão. Essa expressão popular nos indica que juntos somos fortes, e é somente quando nos unimos que podemos promover transformações sociais.

As mobilizações coletivas podem ocorrer, e de várias maneiras!

As manifestações são exemplos pontuais de grupos diversos que se juntam para defender uma causa. Esse grupo não precisa ser igual ou ter uma condição formal, exemplo disso foi a greve dos entregadores de aplicativos, que mesmo autônomos, se reconheceram enquanto classe que sofre com a precarização do trabalho. Foi percebido que o marketing da flexibilização e empreendedorismo eram falácias, e ao sentirem a exploração, se juntaram em luta.

Atuar em movimentos sociais, participar de reuniões das instituições de sua região, cobrar coletivamente desde subprefeituras até o Estado, buscar pautas dialogadas de constituição social, divulgar e engajar a luta em redes sociais são outros exemplos dessa busca por melhorias.

Em toda crise pode estar contida a semente da transformação. Temos uma oportunidade de ajudar a construir esse novo normal que queremos habitar. Podemos apenas nos adaptar, “gerenciar” a crise e manter o mundo como o conhecíamos antes. Mas podemos também lutar por mudanças e pensar que, junto com todas essas novidades, podemos ter a esperança de uma transformação.

Queremos muito apoiar os profissionais nesse momento de mudanças. E para podermos construir ferramentas adequadas estamos fazendo uma pesquisa com quem já está no mercado de trabalho. Você pode colaborar de forma anônima compartilhar quais mudanças a pandemia trouxe para o seu trabalho. Leva apenas 5min e você ainda recebe um ebook exclusivo que explica como manter a saúde mental no trabalho. Acesse a pesquisa aqui.