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Testes vocacionais encaixotam a gente

jun. 22, 2020

Tempo de leitura: 7min


Eu adoro fazer testes vocacionais de Internet por um motivo: pra ver como eles estão errados sobre mim. É muito interessante observar as profissões que eles sugerem que eu siga. Felizmente “Psicologia” aparece em quase todos os resultados como uma das opções, mas aí eu também vejo lá Nutrição, Fisioterapia, Medicina, Serviço Social, Direito, Veterinária, etc, e penso: “Vixi, o caminho profissional que eu trilhei passou muuuuito longe dessas outras opções...”.

Eu acho que o maior problema no resultado dos testes vocacionais não é nem ele deixar um leque super aberto de profissões no final (isso até me alivia, porque existem mesmo vários caminhos que podemos seguir). O que me irrita de verdade é que ele só deixa a lista de resultados lá, sem qualquer apoio pra que você entenda qual daquelas opções faz mais sentido pra você. E isso é super diferente de um psicólogo que faz Orientação Profissional e que te ajuda não só a identificar suas possibilidades, como também a entender QUAL daquelas profissões tá mais alinhada com as suas necessidades e expectativas.

Outro problema que eu vejo é que os testes vocacionais não recomendam que o jovem pesquise a fundo aquelas opções profissionais do resultado. O jovem é que se vire. Aliás, o mais comum é que os jovens nem percebam que isso é FUNDAMENTAL pra fazerem uma boa escolha e acabem escolhendo uma das profissões do resultado fazendo “Ma-mãe man-dou eu es-co-lher es-se da-qui!”. Que cilada, escolher um caminho profissional sem nenhuma informação do que vai acontecer na jornada!

A parte engraçada dos testes é que a maioria deles fazem perguntas muuuito óbvias, que já dá pra imaginar que profissão vai ser sugerida. É até sem graça: “Você prefere estar na natureza ou em um museu? Hmmm, em um museu, ok. Então parece que você se daria bem seguindo uma carreira artística”. Gente, só porque eu gosto de ir em museus significa que eu não devo trabalhar em uma profissão do campo? Que loucura!

Outro problema é que esses testes são cheios de pré-conceitos, já viu? Um dia desses eu experimentei um que, além das profissões, mostrava nos resultados alguns traços da minha personalidade. Aí no meu traço “Sociável”, ele dizia que pessoas com mais sensibilidade não trabalham com atividades mecânicas e técnicas. Aí eu pensei: “Puxa, quer dizer que se eu for em uma fábrica, por exemplo, não vou encontrar funcionários sensíveis? Vixi, e meu mecânico, então? Deve estar na profissão errada, porque ele é mega sociável, fala pelos cotovelos com todo mundo!”.

E aí nessas horas eu fico me perguntando: o que seria de um jovem que sonha em trabalhar com atividades mecânicas, mas aí vê num teste que é sociável e sensível e que por isso deveria seguir por outro caminho? Ele deve abandonar a ideia de trabalhar com as atividades que gosta porque isso “não combina” com o perfil dele? Ai, como eu odeio essa ideia de que temos um “perfil profissional”.

Eu mesma não sei qual é o meu perfil, já que eu mudei com cada experiência que tive na vida! Na escola, por exemplo, eu era super independente e odiaaaava fazer trabalhos em grupo, porque queria ser responsável por todas as etapas. Depois eu fui pra faculdade e lá eu já odiava fazer trabalhos, com todas as minhas forças. Mas hoje eu fico muito mais feliz se puder dividir um trabalho com outras pessoas e adoro o fato de trabalhar diariamente em equipe. E se quando eu estivesse saindo Ensino Médio visse em um teste que eu deveria evitar profissões em que se trabalha em conjunto? Hoje eu seria bem infeliz por ter que fazer tudo sozinha, viu.

E já que mudamos ao longo da vida, não faz muito sentido pensar que uma profissão “é a nossa cara”. Várias profissões podem ser a nossa cara, e isso também pode variar dependendo do momento da nossa vida! Esses dias, por exemplo, eu vi o relato de um homem que trabalhou a vida toda em um ambiente corporativo e que adorava aquele ambiente competitivo, mas com a morte da esposa ele repensou várias coisas e percebeu que queria levar outro estilo de vida, se dedicando a atividades artísticas e esportivas. Qual seria o perfil dele, então?

Isso me lembra de uma jovem que utilizou o nosso app DiretriX, que ajuda a fazer as reflexões que são importantes pra escolha de uma profissão! Ao longo dos desafios, ela percebeu que se interessava por 45 profissões diferentes, e algumas delas soariam bem DIVERGENTES pra um teste vocacional, como: Engenharia de Produção, Medicina, Empreendedorismo, Gastronomia e Jornalismo. Quando eu vi isso, pensei “Que legal! Essa é uma daquelas pessoas que se interessa por diferentes temas e tá se permitindo pensar sobre essas possibilidades! Show!”

Já pensou se ela faz um teste vocacional e vê lá “Ana, você é uma pessoa de EXATAS”? (Ai, esses perfis de “humanas”, “exatas” e “biológicas”... Não sei nem o que falar sobre eles!) A Ana poderia concluir: “Bom, se eu sou de Exatas, nada a ver considerar Medicina, né. Nem Gastronomia. Nem Jornalismo.”. E que pena... Ela poderia ter sido uma excelente médica, uma chef consagrada, ou uma jornalista muito realizada, e não teria se permitido pensar nessas possibilidades. 

É por isso que não faz sentido definir as pessoas em perfis! A gente tem que ampliar nossa análise e expandir os horizontes, e não nos fechar em uma caixinha...

Escolher um caminho profissional tá longe de ser fácil. E tudo bem, pode ser MENOS DIFÍCIL escolher quando um teste diz ali rapidamente o que tem a ver com a gente. Mas eu prefiro eu mesma, que me conheço a vida inteira e me vejo mudando todos os dias, dizer o que tem a ver comigo. Eu também prefiro acreditar que hoje eu posso escolher um caminho e que, se eu mudar de ideia lá na frente, posso avaliar de novo e escolher outros caminhos.

E você, prefere o quê?

Isis Graziele da Silva | CRP 06/142189

Psicóloga e orientadora profissional. Escolheu psicologia porque queria desvendar crimes. Mestre em Psicologia, especialista em Psicologia Jurídica. Tem experiência em consultório e cursinho pré-vestibular. Co-autora de "Pré-vestibular: práticas para psicólogos" e autora de "Porque fazemos selfies".

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